De braçada
Da natação até o mercado financeiro, Sofia Guerra cumpre sua jornada de reinvenção.
Aos 18 anos, Sofia Guerra descobriu que não poderia ser mais atleta. Longe das raias que frequentou durantes os primeiros anos da sua vida, ela teria que decidir os caminhos que trilharia dali para a frente. Cursou Engenharia, entrou em Administração e ingressou no mercado financeiro para sincronizar profissão, família e renovação.
Você nasceu em Minas Gerais, cresceu em São José dos Campos e acabou indo para São Paulo. Como essa trajetória ocorreu?
Eu cresci com o esporte, na natação. Minha vida girava em torno dessa dinâmica de treinos e estudos, até que, no final do Ensino Médio, descobri que não poderia ser mais atleta. Comecei a pensar em alternativas. O que eu iria fazer? Acabei indo para a Engenharia, e vou te dizer: eu odiei (risos). Cursei um ano para nunca mais voltar. Detestava tudo e tive que repensar novamente para onde iria. Fui para a Administração e, no final, descobri que queria trabalhar no mercado financeiro.
Como foi sua primeira experiência no setor?
Eu acabei passando em um processo de seleção no banco Santander, para trabalhar com produtos financeiros. Foi um período importante, mas ao mesmo tempo foi uma experiência um pouco solitária.
Por quê?
Porque é um mercado masculino demais. Eu me via cercada de homens, respondendo para homens, sem ter uma referência de liderança feminina. Não tinha em quem me inspirar. Essa ausência de profissionais mulheres se tornou ainda mais forte quando, depois, fui atuar no segmento de aviação. Minha experiência foi a de um segmento pouco aderente com a diversidade, com pouca voz e respeito para as mulheres. Eu trabalhei em um projeto para o Exército brasileiro, imagina? Tudo muito masculino, com pessoas muito mais velhas, com outras cabeças. Eu tive, mais uma vez, que me readaptar e sair daquele ponto para uma nova experiência. E foi aí que eu entrei no mercado de capitais.
Qual foi o papel da sua família em todo esse processo?
Nesse ponto da minha trajetória, em que eu já atuava em securitizadoras, já tinha minha família. Com um filho pequeno, descobri que meu marido estava doente. Eu optei por parar de trabalhar naquele momento. Fiquei um tempo voltada apenas para eles, até que recebi o convite para vir para a Opea. Um convite feito por uma mulher para outra mulher. E isso foi providencial para que eu aceitasse.
O que passou na sua cabeça naquele momento?
Eu achei que poderia não haver mais carreira para mim. Depois de um tempo, quando eu voltei e consegui me ajustar a uma rotina em que todos nós estávamos bem, aceitei que teria que dar passos atrás para uma retomada. Mas a empresa reconheceu em mim uma capacidade que eu mesma não conseguia ver com tanta clareza. Não só eles, mas também meu marido e meus pais, que sempre me apoiaram em tudo o que eu sempre quis fazer. Hoje eu sou a primeira mulher a liderar uma área comercial da empresa após sua reestruturação de segmentos.
Olhando para trás, o que você diria para sua versão mais nova hoje?
Eu sou muito diferente da Sofia nadadora, a mulher de 18 anos que se projetava para o futuro. Eu tenho muito o que aprender e realizar ainda. E o que eu acho é que ser mulher não é um impeditivo para realizações – às vezes nos colocamos numa posição de simplesmente não enxergamos quem somos. Mas a verdade é que podemos ter tudo. Mulheres podem ter trabalho e filhos. Ou não ter filhos. A gente pode fazer o que quiser, e nosso lugar é onde a gente melhor entender.